Anamorfose, Constelações e Extraterrestres


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Trabalho sensacional de fdecomite: a partir de uma série de linhas redondas, cria-se um reflexo composto de linhas na esfera metálica, em um exemplo de anamorfose. Apenas através do reflexo na esfera pode-se ver a imagem deliberadamente construída e de certa forma oculta nas linhas originais.
Um dos primeiros exemplos de arte anamórfica foi criado por ninguém menos que Leonardo Da Vinci:
Mas de certa forma o efeito de perspectiva por trás da anamorfose está em algumas das figuras mais antigas conhecidas pela humanidade, as próprias constelações.
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As figuras que traçamos entre as estrelas distantes só são constelações vistas a partir da Terra – e em períodos temporais específicos, dependendo da velocidade com que as estrelas se movimentam. A figura de uma constelação pode ser composta por pontos de luz distantes tridimensionalmente muitos anos-luz, e o divertido jogo acima demonstra o efeito Aprendendo com a Constelação de Homer Simpson.
Mas onde entram os extraterrestres? Talvez você não saiba, mas aqueles extraterrestres cabeçudos, de pele cinza e grandes olhos negros, são originários de Zeta Reticuli, um sistema estelar binário a apenas 39 anos-luz da Terra.
Como sabemos disto? Em um dos mais conhecidos casos de suposto sequestro por alienígenas, em 1961 Betty Hill diz ter visto um mapa estelar exibido pelos alienígenas em um telão holográfico, indicando as principais estrelas e as rotas de viagem usadas pelos cabeçudos. Sob hipnose, Hill reproduziu os pontos e linhas.
Anos depois, uma professora chamada Marjorie Fish leu o relato de Hill em um livro popular e ficou fascinada com o mapa estelar. Apesar de não ser uma astrônoma, a professora mergulhou na literatura e na informação astronômica disponível à época, e montou um modelo das estrelas próximas capazes de abrigar vida, usando linhas e pequenas bolas. A partir dele, e ao longo de anos, Fish tentou descobrir quais seriam as estrelas que Betty Hill teria visto em seu mapa estelar.
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E foi Fish que identificou que a “combinação exata” que apontava as estrelas principais no mapa alienígena como o sistema de Zeta Reticuli. As estrelas entrariam então para a cultura popular – até Fox Mulder mencionou o fato estabelecido sobre a origem dos aliens cabeçudos.
É uma história fascinante: alienígenas exibem um mapa estelar, e a partir dele uma professora consegue, após muito esforço, identificar a origem de nossos visitantes no Universo. Ufólogos como Stanton Friedman utilizam este elemento como uma peça central a validar o caso de abdução dos Hill. Infelizmente, alguns erros foram cometidos.
Ainda que suponhamos que Betty Hill realmente foi sequestrada por alienígenas e realmente viu um mapa estelar tridimensional, podemos confiar que o esboço que ela rabiscou posteriormente realmente reproduzia de forma acurada o que (talvez) tivesse visto?
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A resposta é que nunca nenhum pesquisador OVNI realizou este teste com Betty Hill, que já faleceu. Qualquer um pode apreciar intuitivamente que seria difícil a qualquer pessoa, sob hipnose ou não, reproduzir com exatidão um padrão com mais de uma dezena de pontos e linhas de variados tamanhos.
Mas ainda que suponhamos que Betty Hill realmente foi sequestrada por alienígenas, realmente viu um mapa estelar tridimensional e realmente conseguiu reproduzi-lo com precisão em seu esboço, podemos confiar que o trabalho de Marjorie Fish identifica sem ambiguidade o sistema de Zeta Reticuli como o único sistema estelar que se ajusta ao mapa?
A resposta é negativa. Já à época em que foi divulgado, Carl Sagan e Steven Soter – que colaborariam mais tarde na série Cosmos, onde também comentaram o caso – mostraram que o padrão de pontos no mapa de Hill, com a margem de erro que Fish se permitiu, poderia se ajustar a outros sistemas estelares e que a semelhança visual se devia primariamente às linhas desenhadas ente as estrelas. E as linhas eram em grande parte arbitrárias, como a anamorfose das constelações demonstra.
Desde então, falhas ainda mais fundamentais foram encontradas com a ideia de Zeta Reticuli: o próprio catálogo de Gliese de estrelas próximas utilizado como base por Fish tornou-se ultrapassado. Utilizando simplesmente os dados muito mais precisos e completos gerados pelo satélite Hipparcos no início da década de 1990, o astrônomo Brett Holman demonstrou que, aplicando os critérios de Fish, excluindo sistemas estelares incapazes de suportar vida, seis das quinze estrelas que ela escolheu devem ser removidas, destruindo a “combinação exata” encontrada. Mais de um terço dos pontos não encontra combinação, e a crítica original de Sagan e Soter sobre a arbitrariedade de traçar linhas entre pontos aleatórios contra um vasto catálogo estelar se torna ainda mais forte. O artigo de Holman tem o título de “Adeus, Zeta Reticuli”.
Como comenta Robert Schaeffer, ufólogos como Friedman pouco se abalam com essas informações. Apesar de conceder que o catálogo estelar Hipparcos é com certeza mais acurado que o utilizado por Fish, Friedman não aceita a conclusão inevitável que deriva daí que a identificação de Fish deve estar incorreta. Para Friedman, Zeta Reticuli permanece sendo a “base” ainda que essa base só tenha sido apontada através de dados que ele reconhece não serem corretos.
Talvez o casal Hill tenha sido sequestrado por alienígenas, embora haja uma série de evidências de que seu relato – que é tudo que existe para apoiar essa alegação – contêm elementos de fantasia. Talvez sejamos visitados por alienígenas. Mas é muito pouco provável que, como dizia Mulder, eles sejam de Zeta Reticuli e apreciem comer nossos fígados com cebolas.
Incontáveis abduzidos, canalizadores e ufólogos com supostas fontes secretas ou extraterrestrenas passaram a mencionar Zeta Reticuli após o trabalho de Marjorie Fish, sem saber que ao fazê-lo apenas demonstravam como suas fontes são em verdade os erros e enganos muito terrestres e humanos.
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