Miragem cósmica permite que cientistas vejam a mesma estrela explodir vezes sem conta


Por cima do clarão mais forte, bem no centro da imagem, é possível ver o 
aglomerado de galáxias que serve de lente, e os quatro pontos brilhantes que formam 
a Cruz de Einstein ao seu redor: uma única explosão, vista quatro vezes. 
Fotografia © NASA

Um aglomerado de galáxias funciona como uma lente que permite ver a mesma imagem projetada repetidas vezes - uma previsão de Einstein com que "os astrónomos sonhavam há décadas".

Há mais de nove mil milhões de anos, no outro lado do universo, uma estrela entrou em supernova, o que significa que se desfez numa explosão muito brilhante. Essa explosão terá surgido no céu em 1964. E depois novamente em 1995. E depois em 2014, desta vez em quatro imagens diferentes, em forma de cruz.

Quando o californiano Patrick Kelly se apercebeu de que os cientistas estavam a ver a mesma explosão em várias imagens, ficou abismado. "Não estava de todo à espera de algo assim", disse ao New York Times. A supernova aparece em quatro imagens refratadas, formando uma miragem muito rara: umaCruz de Einstein.

As observações foram feitas com o Telescópio Espacial Hubble. Mesmo com esse instrumento muito potente, seria impossível observar a supernova distante se não fosse um fenómeno previsto por Albert Einstein na teoria da relatividade: a forma como objetos muito massivos, como aglomerados de galáxias,fazem curvar a luz e criam uma espécie de lente cósmica para deixar ver coisas que, da perspetiva do observador, se encontram por detrás delas.

A lente cósmica que é o aglomerado de galáxias cria uma miragem a que se chama uma Cruz de Einstein: apesar de ter havido apenas uma explosão de supernova, a galáxia refrata a luz da explosão, que é possível ver em quatro pontos ao redor da "lente", como se fossem quatro explosões diferentes. A gravidade do aglomerado faz com que a luz se desvie do seu caminho normalmente reto. "Vemos quatro pontos de luz que formam esta bela Cruz de Einstein", descreveu o astrofísico Daniel Holz, da Universidade de Chicago, à revista National Geographic.

100 anos depois, o cosmos homenageia Einstein

Faz cem anos que a teoria da relatividade, que prevê este tipo de fenómeno, foi formulada por Albert Einstein, e é na edição comemorativa da revista científica Science que o artigo do astrofísico Patrick Kelly vai ser publicado. O que torna a descoberta de Kelly especial? A revista científica francesaScience et Vie descreve-a como "aquilo com que os astrónomos sonhavam há décadas", e diz que é uma "bela homenagem" do cosmos ao físico.

"Já tínhamos visto lentes gravitacionais antes, e já tínhamos visto supernovas antes. Até já tínhamos visto supernovas através de lentes. Mas esta imagem múltipla é exatamente aquilo de que estávamos à espera", disse Robert Kirshner, perito em supernovas no centro de astrofísica de Harvard-Smithsonian, aoNew York Times.

Estatisticamente, conta a Science et Vie, as probabilidades eram "vertiginosamente fracas" de se conseguir observar uma supernova, uma explosão breve e muito brilhante e um dos acontecimentos mais raros do Universo, através da lente gravitacional de um aglomerado de galáxias.

Esta descoberta vai ser muito útil para os cientistas: o estudo das imagens da supernova e das diferenças entre elas vai permitir-lhes refinar as teorias que explicam a expansão do universo e a sua aceleração, e vai ajudar a mapear a elusiva matéria escura, que, embora muito difícil de observar, constituirá grande parte da massa do Universo.

Fonte: DN
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