Fóssil do Magyarossaurus foi descoberto por aristocrata na Transilvânia
Imagine um dinossauro gigantesco como um saurópode, um dos maiores animais que já pisou na Terra. Uma besta vegetariana magnífica, com seu longo pescoço e cauda. Agora imagine o mesmo animal reduzido ao tamanho de uma vaca.
Pode parecer estranho, mas um animal assim existiu mesmo. Uma série de fósseis descobertos na Romênia comprovou não só a existência do animal como também forneceu pistas sobre como os dinossauros evoluíram em diferentes direções - e acabaram desaparecendo.
Anões da Transilvânia
A estranha história dos 'anões dinossauros' começa no século 19 na Transilvânia - hoje em dia uma região da Romênia. O aristocrata Franz Nopcsa ficou encantado com a descoberta de fósseis na propriedade de sua família.
Nopcsa passou a se dedicar ao estudo do assunto e virou um especialista. Ele descobriu que os fósseis de saurópodes que havia descoberto eram muito parecidos com outros achados na Índia e na América do Norte. No entanto - apesar do formato parecido - eles eram muito pequenos. Ele batizou a espécie de Magyarosaurus.
Em 1912, após décadas de estudo, Nopcsa fez uma declaração ousada. Ele concluiu que sua região havia sido, no passado, uma ilha pré-histórica de dinossauros, com população de pequenos animais semelhantes aos gigantescos dinossauros.
A ideia não é tão maluca quanto pode soar. Cientistas já haviam descoberto outras ilhas com fósseis de outras espécies estranhas: elefantes anões e hipopótamos anões, que teriam vivido na Idade da Pedra.
Mas o argumento de Nopcsa não convenceu aos demais. Como saber que os fósseis eram de uma espécie menor, e não apenas de filhotes de saurópodes?
Com a chegada da Primeira Guerra, as fronteiras da Romênia foram redesenhadas, e Nopcsa perdeu suas propriedades. Com isso, ele perdeu também o acesso aos fósseis que estudara. Nos anos 1930, falido, ele cometeu suicídio.
Debate ressurge
O debate voltou à tona só no século 21, quando a equipe do paleontólogo Martin Sander, da Universidade de Bonn, liderou uma escavação no norte da Alemanha. Ele encontrou 11 esqueletos - o maior deles com 6 metros de tamanho, e o menor com 1,7 metros Todos eram da mesma espécie - que em 2006 recebeu o nome de Europasaurus.
Inicialmente ele pensou que se tratava de filhotes. Mas depois, conseguiu descobrir que todos eles tinham feições de animais maduros. Sua conclusão foi a de que os Europasaurus eram anões.
Sander começou então a estudar os Magyarosaurus de Nopcsa. E em 2010, chegou à mesma conclusão do aristocrata do século 19 - os pequenos sauropódes também eram anões. Desde então, vários dinossauros anões têm sido descobertos - no Reino Unido e na Arábia Saudita.
Os cientistas estão intrigados com a região da Transilvânia, que parece ter abrigado uma fauna distinta das demais.
"O Europasaurus achado na Alemanha é só um tipo de dinossauro anão - mas na Romênia existem várias espécies anãs. Junto com o Magyarosaurus, há também anões comedores de plantas e talvez até carnívoros. É uma fauna muito estranha", diz o professor Stephen Brusatte, da Universidade de Edimburgo.
Grande x pequeno
Com as descobertas, surgiram também várias perguntas. A primeira delas é: por que existe uma diferença tão grande de tamanho? Os saurópodes tinham 40 metros de tamanho. Os dinossauros anões mal alcançariam o joelho destas espécies gigantes.
A explicação do tamanho gigantesco dos saurópodes está na geração de calor interno.
Os répteis, por terem sangue mais frio, conseguem crescer a um tamanho que os mamíferos nunca conseguiram na terra.
Quanto maiores são os animais, maior é seu volume em relação à superfície de seu corpo. Assim, vai ficando cada vez mais difícil de liberar calor do corpo.
Mamíferos gigantescos correriam o risco de "superaquecer" internamente, o que pode ser fatal. Mas os répteis não possuem sangue quente.
Sem esse constrangimento de temperatura, os saurópodes evoluíram para atingir alturas enormes - provavelmente para se proteger de predadores. Mas os predadores também cresceram, e depois de alguns séculos a Terra estava populada por gigantes.
Mas se o tamanho dos gigantes é explicado, o dos anões ainda intriga especialistas. Roger Benson, da Universidade de Oxford, acha que por algum acaso do destino os grandes predadores rivais dos saurópodes - como os tiranossauros - nunca chegaram à ilha pre-histórica descrita por Nopcsa.
Uma teoria é a de que os animais gigantescos ficaram presos na ilha sem predadores grandes, e com o tempo acabaram diminuindo de tamanho.
Pequeno, mas grande
A pergunta que intriga os especialistas é: por que os dinossauros não diminuíram ainda mais de tamanho? Mesmo os menores fósseis descobertos até hoje - o Europasaurus e o Magyarosaurus - ainda têm o tamanho de uma vaca, que é um animal razoavelmente grande para os padrões de hoje.
Mais de 80% dos mamíferos de hoje em dia (a classe com os maiores animais modernos) têm menos de 1 quilo. Já entre os dinossauros, nenhuma espécie tinha menos que isso.
Benson acredita que a extinção completa dos dinossauros aconteceu porque alguns desses anões não diminuíram ainda mais de tamanho.
Quando um asteroide atingiu a Terra há 65 milhões de anos e alterou fundamentalmente o equilíbrio da natureza no planeta, apenas as menores espécies conseguiram sobreviver às novas condições. Talvez os dinossauros - mesmo os anões - não tenham conseguido se adaptar ao novo ambiente por serem grandes demais.
Benson diz que os pássaros reagiram de forma diferente. Algumas espécies de aves conseguiram diminuir bastante de tamanho, e isso às ajudou no novo planeta Terra pós-asteroide.
Enquanto não se descobre a resposta para algumas dessas perguntas fundamentais, cientistas celebram o fato de que o estudo dos dinossauros anões já é suficiente para nos ensinar algo muito valioso: o quão diversa e rica essa espécie extinta foi.
Fonte: Arquivosdoinsolito
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